O jogo é algo que mexe conosco: a possibilidade de muito rapidamente de fazer nos reconciliar com tudo que nos foi recusado pela vida através do consumo e do status que ele acena nos prover. Não nos submeteríamos mais à violência simbólica do trabalho sem sentido, dos apertos do transporte coletivo logo pelas manhãs, da desaceleração do tempo – ainda não explicada pela ciência – quando o relógio marca 17:30 e que insiste em não querer tornar-se 18:00. As tristezas da segunda-feira à alegria efêmera de um fim de semana que se aproxima.
Apostar em jogos é inicialmente isto: a projeção ingênua de uma boa vida que nos é prometida diariamente pelos comerciais de tv, e quanto maior é a sua fragilidade à esses estímulos, a sua vaidade em formar a sua identidade através das aparências, maior também será o impacto que você sofrerá. Os cientistas já perceberam que ganhar uma aposta tem os mesmos efeitos em nosso cérebro ao de um viciado em receber uma dose de cocaína. Leia o conteúdo a seguir e saiba mais sobre o assunto!
Como os sentidos são estimulados?
Os sites de apostas e cassinos online são espaços onde a imaginação masculina é naturalmente incitada. A remota possibilidade de que se esconde em um dos diversos jogos contidos no site de ter a vida transformada por uma riqueza inesperada, já é um elemento suficiente para tornar o jogo extremamente atraente. Porém, a sociedade atual já atribuiu funções diferentes ao dinheiro que vai além de um mero meio que possibilita as trocas, hoje busca-se a sua acumulação pura e simples. Relembrar os benefícios que o dinheiro pode trazer é uma forma de impulsionar o jogador a ir além, e simbolicamente você transfere esses mesmos valores desejados para o ato de apostar, aproximando o apostador das possibilidades que se abririam através dos lucros que acenam a cada aposta realizada.
Quais as características do viciado em jogo?
Ainda que eu acredite que existam diversos estudos brasileiros sobre o vício do jogo pela internet, são os acadêmicos portugueses que me parecem trazer uma grande contribuição para esse campo. Os estudos convergem em muitas partes, e o interessante é que todos mostram o preconceito por trás do jogo patológico visto como apenas um vício pela sociedade, e não como uma doença mental. O jogador patológico é aquele que de forma crônica e progressivamente vai se tornando incapaz de resistir aos impulsos de jogar, sendo que tem um histórico de dependência ao Álcool e ao tabaco possuem uma predisposição a também se viciarem no jogo.
Conheça as fases do vício do jogo
A fase de ganhos: Os ganhos iniciais serão suficientes para que o jogador se considere um grande apostador, superestimando as suas reais capacidades, resultando em apostas maiores e mais frequentes.
A fase das perdas: Nesse momento, o jogo tem a sua utilidade virada para a recuperação das perdas iniciais. Enquanto o apostador não sente que teve o valor de seus prejuízos ressarcidos, as apostas não param. A partir daí, o jogo torna-se solitário. Com a autoestima abalada, o apostador mantém o hábito para si, não revelando mais a frequência com que se aposta, assim como os valores incluídos.
O desânimo: As perdas se acumulam, dívidas de jogo começam a surgir e o otimismo inicial dá lugar a um desânimo sem fim.
O profundo desespero: Esta é fase final: o descontrole emocional é máximo, podendo acarretar em pensamento suicidas. O jogo dura o dia todo, o jogador passa a faltar seguidamente no trabalho, deixando de praticar as atividades que costumava fazer. Completamente endividado, os ganhos que poderiam ser proporcionados pelo jogo já não são suficientes para cobrir o gigantesco prejuízo, entrando em uma espiral catastrófica, uma profunda imersão ao desespero e descontrole. Período, este, que antecede o suicídio.
Se ao ler esse texto você se identificou e sente que tem dificuldades em se controlar na hora de apostar, saiba que o vício em jogo deve ser tratado, e existem entidades que oferecem ajuda a quem precisa. Apostar deve ser um momento de lazer moderado e não um gerador de angústias sem fim.
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